Ao iniciar este trabalho é importante afirmar que as questões do ministério pastoral e em especial o tema do aconselhamento, são de altíssima
importância à reflexão teológica, pois vivemos em um mundo marcado pela
indiferença em relação ao cuidado à pessoa, já que o homem pós-moderno, apesar de precisar
como nunca ser cuidado, se decepcionou com sistemas religiosos coniventes com a
máquina global manipuladora, se tornando enfermo (física, emocional e
espiritualmente) e pior que isto, tornou-se descrente de uma oferta sincera de ajuda.
Excepcionalmente, a tarefa a ser desenvolvida é muito árdua, pois além da
mesma, faz-se necessário a conquista da credibilidade, derrubando assim a
suspeita de que o desejo de cuidar seja integral e sincero.
Ao introduzir, pois
este trabalho desejo citar o pensamento de Platão:
“Pois este é o grande erro de nossos dias – os médicos separarem o corpo
do espírito” .
Penso que atualmente, esta seja a
questão paradoxal e crítica para a relação aconselhamento-necessidade de
cuidado, do homem descrente da atualidade em indispensável necessidade de
interação com a graça de Deus, por Jesus, no Espírito Santo, homem este, ainda que inconscientemente, disponível na
totalidade para os diversos dons e ministérios na igreja genuinamente cristã, e
em especial, na área que trata dos feridos.
Concluo, esta introdução, afirmando
que a nossa resposta a indagação de Jeremias a seguir deve ser positivamente
contagiante:
“Acaso, não há bálsamo em Gileade? Ou não há lá médico? Por que, pois, não
se realizou a cura da filha do meu povo?” .
II. O modelo
holístico na pastoral:
Ao lermos a tese de doutorado de Everton Ricardo Bootz, podemos constatar
o seu objetivo em apresentar o modelo
holístico de aconselhamento, como forma de libertação e crescimento. Neste
trabalho ele cita o pensamento de Howard Clinebell com relação a integralidade
da cura, que acaba encerrando a visão holística proposta no tratamento a ser
buscado, segundo ele:
“
As seis dimensões
interdependes são:
Uma mente avivada, um corpo
vitalizado, relacionamentos íntimos enriquecidos, uma relação harmônica com a
natureza, relacionamentos significativos com instituições sociais e um profundo
relacionamento com Deus”.
Observa-se, então, ao se fazer uma análise deste discurso, o contorno que
este doutorando dá a sua proposta, primeiramente abalizando de forma mais
especifica, o conceito do modelo holístico de aconselhamento, e logo a seguir
demonstrando as convergências do pensamento holístico nas abordagens: holística, propriamente dita, contextual, que se refere ao tratamento
do paciente tendo em vista os traumas sofridos em decorrência dos problemas,
sócio-politico-cultural no qual o mesmo esta inserido e, espiritual, da qual ele fala sobre as
questões mais interiorizadas do ser humano e os distúrbios decorrentes deste
desequilibro interior.
É interessante, no entanto, notar
que em todas as abordagens, ainda que de forma um tanto quanto ambígua (às
vezes), ele faz convergir os itens aparentemente excludentes para uma
conciliação, demonstrando assim a viabilidade do modelo holístico para a
pastoral.
Ainda antes que possamos continuar, é importante que seja demonstrado
aqui, a intenção de Everton Ricardo Bootz em fazer afluir as abordagens:
contextual e espiritual para uma forma mais plena de aconselhamento, assim como
creio que ele desejou em sua tese:
- Na Abordagem
contextual de uma poimênica de libertação:
Ele acaba convergindo esta forma de poimênica para uma forma de interação ( complementação ) entre racionalidade e espiritualidade
(chegando fazer menção ao uso da intuição – lado direito do cérebro), do financeiro com o koinônico, do teológico
com o psicológico, passando também pela questão da hermenêutica bíblica com foco
em libertação social, não deixando de mencionar o aspecto do numinoso. Enfim,
percebe-se, entre estes e outros exemplos que podem ser extraídos do texto, uma
preocupação do autor em conduzir a questão contextual para uma abordagem de
harmonização do todo, de complementaridade, demonstrando assim uma filosofia
holística, nas questões sócio-politico-culturais.
- Na Abordagem
espiritual:
Não diferentemente da abordagem anterior, observa-se a intenção de
Everton Ricardo Bootz, em fazer convergir o espiritual para o holístico, onde
mais uma vez ele menciona a questão da integralidade do viver humano chegando a
afirmar que:
“A pessoa vive bem ao viver integralmente as diferentes
dimensões da vida humana”.
Daí em diante ele começa a
demonstrar estas diferentes dimensões da vida humana:
- A racionalidade: com o foco no diálogo
- A emotividade: com o foco de “evangelizar os
próprios sentimentos”
- A espiritualidade, propriamente dita.
Podemos
então a partir de suas considerações, observa-lo, trabalhando mais uma vez para
demonstrar o espiritual com tendência para o holístico. Conforme ele mesmo
afirma: “A dimensão social é diretamente influenciada por uma vida
espiritualmente exercitada”, informação esta que deixa transparecer sua
combinação entre questões sociais e espirituais em si, o que a meu ver, não
deixa de ser uma forma saudável de pensar com relação à espiritualidade, pois é
fato que as duas dimensões não se excluem mutuamente. Desejo, para ilustrar,
citar o pensamento do Dr. Loring T. Swain, na esfera especifica do tratamento
de pacientes:
“Tem-se tornado cada vez mais claro, como demonstrado, pelos
médicos em toda parte, que a saúde física está intimamente ligada com a saúde
espiritual e que, muitas vezes, depende dela”.
Desejei então até aqui,
esclarecer a intenção do autor da tese, em convergir as abordagens supracitadas
para um foco mais abrangentemente holístico, o que particularmente, não entendo
como sendo maléfico para uma estratégia de aconselhamento pastoral . Tenho porém a esta altura da reflexão, uma preocupação de que sob o ensejo de sermos excessivamente abrangentes
e ecléticos
,
“venhamos acalentar algumas sujeiras da banheira pensando serem elas
também, parte integrante do bebê.” .
Cito a titulo de exemplo de minha preocupação, as influências orientais
sob tratamentos terapêuticos com foco holístico como eles mesmos evocam para si
o termo, podendo serem amplamente pesquisados em livros que abordam o tema e
também na internet. Desejo inclusive
fazer citação de um destes sites:
“
A massagem terapêutica holística é um
conjunto de técnicas de origem ocidental e oriental. Exercida através de
toques, suaves ou profundos, através das mãos visando atingir tecidos corporais
com o propósito de produzir efeitos terapêuticos sobre o sistema nervoso,
muscular, respiratório, circulatório, sanguíneo e linfático, local e sistêmico.
O homem vive sob pressão do meio ambiente e isto provoca alteração e distúrbios
freqüentes de saúde, abalando o equilíbrio energético como um todo, levando a
estados agudos ou até crônicos de ansiedade, depressão e estresse. Existe uma
conexão invisível entre o corpo físico e as forças sutis do homem, sendo estas
a chave para a compreensão dos relacionamentos internos entre a matéria ... e
meridianos, ou seja, nas linhas de forças do duplo etérico.. Na massagem
terapêutica são usadas diversas terapias como: Shiatsu nos meridianos de
acupuntura, Reflexologia, Quiroterapia, Osteopatia, drenagem linfática e
limpeza e energização do sistema nervoso autônomo e dos gânglios... A massagem
tem o objetivo maior de equilibrar o ser como um todo: no mental, no emocional
e no energético”.
III. Implicações
do modelo holístico no aconselhamento pastoral:
A grande indagação a ser feita então a esta altura deve ser: Até que ponto ao
invés sermos sal e fermento, seremos influenciados e levados por filosofias
alheias a sã doutrina cristã? ... Assim
como já citei em outra oportunidade, reafirmo as palavras de John Wesley que
servem como um tipo de fiel da balança desta indagação:
“
Quanto porém a todas as opiniões que não atingem a raiz do
cristianismo ‘nós pensamos e deixamos
pensar’”.
Então se por um lado, devemos nos preocupar com possíveis implicações
negativas deste tipo de modelo de aconselhamento, sabendo fazer as devidas
filtragens, que devem ser peculiares a critica teológica cristã, podendo ser citado aqui o exemplo de um dos grandes expoentes do pensamento cristão em todos os tempos:
§ Paulo: que soube
fazer a transição de um cristianismo judaico fechado, com cautela para um
cristianismo aberto para mudanças e de visão mais abrangente, resultando daí a
igreja gentílica primitiva, da qual somos fruto.
Enfim, nos inspiramos em homens como o mesmo Paulo e tantos outros como: Orígenes,
que soube conciliar a filosofia grega com a doutrina cristã e o próprio John
Wesley que soube em seu tempo fazer os devidos ajustamentos entre: Calvinismo,
Arminianismo, Pietismo, Anglicanismo: fazendo emergir em decorrência da
influencia sobre estas doutrinas
o
pensamento ainda que não perfeito, mas certamente sincero: o wesleyanismo.
Todos estes pensadores cristãos estavam preocupados com a questão da
complementaridade (teológica, cultural, social, espiritual, etc.)
Provavelmente por ser um metodista, penso que o caminho é o do
equilíbrio, do sinergismo, da interação; não necessariamente o da
conciliabilidade a qualquer custo, mas o caminho da análise benevolente para a
conciliação.
Por fim, creio que o modelo proposto pelo autor da tese “CONSULTEI A DEUS, ELE ME
RESPONDEU E ME LIVROU DE TODOS OS MEUS TEMORES” [13], Everton Ricardo Bootz, implica
sim em benefícios para o aconselhamento pastoral, pois realmente faz-se
necessário uma integração de esforços para curar o homem que pior do que
dicotomizado ou tricotomizado, está integralmente ferido pelo pecado quer seja intima,
quer seja contextualmente, entretanto, que possamos assimilar todas as
propostas que surgem com a responsabilidade não somente de cuidar do ferido,
mas também de sermos diagnosticadores dos males que em todos os tempos tentam
infectar esta tão querida casa de misericórdia chamada Igreja.
Trabalho que apresentei na UMESP para o curso de bacharel em teologia
OLIVEIRA, Moysés Marinho de,
7 mil ilustrações e pensamentos para sermões, palestras e boletins – Rio
de Janeiro – pág. 100, 6ª ed. JUERP, 1995.
OLIVEIRA, Moysés Marinho de, 7 mil ilustrações e
pensamentos para sermões, palestras e boletins – Rio de Janeiro – pág. 100,
6ª ed. JUERP, 1995.