terça-feira, 16 de outubro de 2012

Festas na Bíblia

A proposta para este trabalho é: depois de ter feito uma leitura do elucidativo texto do Dr. Tércio Machado Siqueira que trata do tema Festas na Bíblia, anotar os principais pontos, extraindo do mesmo qual o conceito de festa e de memória nas Escrituras Sagradas. 

Pretendo, portanto, seguir estas etapas a seguir:

Os principais pontos que extraí do texto do ilustre professor:
Antes de começar a elencar os principais pontos do texto, é interessante afirmar que o conjunto de informações é tão objetivamente construído, que acaba proporcionando alguma dificuldade do leitor separar principais pontos, todavia, ainda sim, consigo observar a ênfase que o autor dá aos seguintes:
a. O prazer que os hebreus tinham em celebrar as suas festas, não havendo nenhuma relação desta alegria na celebração com o fanatismo religioso.
b.   O caráter totalmente teocêntrico das festas, em decorrência de uma consciência de que o Deus que formou a nação hebraica era o fundamento da mesma. 
c.    As festas hebraicas, não tinham o mesmo caráter hedonista, de grande parte de nossas festas atualmente, inclusive eclesiásticas, pois mesmo em momentos de angústias, as festas hebraicas apontavam para os momentos redentores de Deus na história da nação, alimentando assim, uma nova esperança para o futuro.

A partir destes pontos posso observar que as festas dos hebreus, mais do que uma forma de celebração, foram instituídas por Deus com propósitos didáticos de levar o povo a não se esquecer da aliança com Ele, revelada no princípio aos seus patriarcas, sendo assim uma forma de manter ativa a memória, ainda que em momentos de angústia:
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”
Lamentações 3:21

Páscoa Judaica  - Pessach
Chama-me também a atenção, que as festas de Israel são embadasas em princípios éticos, sobretudo, na questão de relacionamentos com o próximo, principalmente com os desafortunados, os excluídos, entre eles os estrangeiros, os órfãos as viúvas, e etc., sem excluir, entretanto, o prazer na realização da festa:   
Deuteronômio 16.10-11 “E celebrarás a Festa das Semanas ao SENHOR, teu Deus, com ofertas voluntárias da tua mão, segundo o SENHOR, teu Deus, te houver abençoado. 11 Alegrar-te-ás perante o SENHOR, teu Deus, tu, e o teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita que está dentro da tua cidade, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão no meio de ti, no lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para ali fazer habitar o seu nome.”
Esta contundente constatação me leva a concluir que o apostolo Paulo como um judeu, instruído aos pés de Gamaliel, se inspirou, a comemorar as novas celebrações cristãs nas igrejas do mundo Greco-Romano, tendo em essência os mesmos conceitos das festas hebraicas: ou seja, com ênfase na ética, na dignidade dos relacionamentos e após a sua conversão,  como memorial de uma nova aliança entre os irmãos em Cristo Jesus, ao mesmo tempo reprimindo os conceitos de festa com tendências hedonísticas comuns das filosofias de vida do mundo de então:

I Corìntios 11:20-34  “Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis. 21  Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. 22  Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo. 23 Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; 24  e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. 25  Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. 26  Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. 27  Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28  Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; 29  pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. 30  Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. 31  Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. 32  Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo. 33  Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros. 34  Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.”

Pentecostes - Festa das colheitas
d.  É também muito interessante a abordagem do Dr. Tércio Machado Siqueira, sobre a não originalidade das festas hebraicas, não deixando, entretanto, de serem passadas pelo crivo da sua religião, tendo como objetivos principais o de ações de graça pelos benefícios de Deus e também como memorial perpétuo, em detrimento total de um mero entretenimento.

Isto, a meu ver, deve nos levar a uma importante reflexão, sobre o processo de secularização dentro das igrejas cristãs, no mundo pós-moderno em que vivemos, no qual me parece que temos seguido o caminho inverso em se tratando da questão “influenciar – ser influenciado”.    
Creio que outros pontos poderiam ser aqui dissecados, entretanto, penso que não seja esta a proposta deste trabalho. Seguirei então, para concluir, respondendo as duas questões citadas na introdução deste trabalho.

 Qual o conceito de festa na BÍBLIA.
Podemos, afirmar, em decorrência dos pontos já aqui salientados que o conceito de festa na Bíblia, pelo menos inicialmente, era de alegria e de gratidão ao Deus da aliança, levando os hebreus a celebrações com propósitos memoriais. Entretanto, conforme a monarquia foi constituída e o tempo passou, puderam-se observar, em função da institucionalização das festas, propósitos estrategicamente relacionados à monarquia podendo ser citado aqui, por exemplo, propósitos unificadores do reino e de promoção da religião estatal, exemplos estes que em si, não eram maléficos, mas que de qualquer forma, acabavam extrapolando ao real sentido da realização destas festas. É interessante também lembrar a esta altura, alguns tipos de festas que embora, não compunham as celebrações periódicas de Israel, mas que acabam sendo um paradigma negativo ao culto de Javé, como foi o caso do culto ao Bezerro de Ouro. A questão que desejo aqui ressaltar é que normalmente, não se vê na Bíblia, qualquer tipo de celebração a Javé, que promova o anarquismo, a imoralidade, enfim jamais se encontra nas Escrituras, uma relação das festas hebraicas com atitudes hedonísticas.

Qual o conceito de memória na BÍBLIA.
Tabernaculos - Sucot
As festas, portanto, tinham, entre outros propósitos, memorizar os feitos de Deus através da história, e sua misericórdia àqueles que Dele carecem. A Bíblia nos mostra que a memória era importantíssima para os hebreus de forma que eles erigiam monumentos e construíam até altares para preservar a lembrança de eventos ou de determinada pessoa. Assim sendo, esquecer de alguém ou de um feito memorável, seria uma atitude descabida, entretanto, existiam pessoas ou feitos que deveriam ser esquecidos como foi o caso do Rei Jeorão, por exemplo. (II Crônicas 21:20).

Festa do Purim
 Livramento  Judaico nos dias de Ester 
Por fim, desejo afirmar que o legado que os hebreus deixaram para aqueles que herdaram as suas tradições: foi entre outras coisas, por exemplo: o de celebrar as suas festas tendo como objetivo: lembrar-se do Deus da aliança, não deixando de se lembrar do próximo, entre os quais, os desafortunados, os órfãos, as viúvas, os estrangeiros, enfim aqueles que deveriam ser envolvidos pela abrangência do amor. Mas é importante não esquecer que esta herança só se tornou plena de significado a partir da releitura destas tradições, feita pelos profetas Isaias, Jeremias e posteriormente por Jesus e os seus apóstolos.  Em suma, este foi o cerne das festas da Bíblia. Quando institucionalizadas, reduzidas a atos de religiosidades perderam em essência o sentido memorial, mas quando reinterpretadas em seu íntimo se tornaram um referencial perene de celebração.

Para encerrar, segue uma tabela com algumas festas bíblicas importantes para o povo de Israel em todos os tempos:

FESTAS BÍBLICAS MOSAICAS
DATAS
Pessach (Páscoa)
15 de Nissan
Shavuot (Pentecostes)
6 de Sivan
Sucot (Tabernáculos)
15 de Tishrei
FESTAS BÍBLICAS PÓS-MOSAICAS
DATAS
Chanucá (Restauração)
25 de Kislev
Purim
14 de Adar ou Adar II





Trabalho que apresentei para o meu curso de Integralização de créditos de Teologia na UMESP
Abraços
Derciley Chaves Bastos