quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O silêncio da conivência e o grito da inocência!

Recentemente li uma notícia que me deixou ao mesmo tempo triste e indignado. O título da matéria é: “Vaticano: aplicar lei do silêncio à pedofilia é errado e injusto[1]”, seguindo-se relacionadas a estas, outras entre elas: “Casos de pedofilia custaram US$ 2 bilhões à Igreja Católica[2]”. 

Embora, a minha indignação não deixe de ter relação com a degradação moral surgida nos bastidores de uma entidade conhecida como cristã pelo mundo não cristão, A minha tristeza aqui, com relação a este escândalo é enfocada mais especificamente no silêncio sepulcral do qual líderes religiosos que se dizem representantes do povo se valeram para “proteger” seus “amigos de fé”. Posso aqui, até afirmar que estas indignação e tristeza não sejam exclusividades minhas, mas que, independentemente de credo, sejam senso comum .

Observei, à medida que refletia sobre este tema, uma relação com o conflito entre israelitas e amalequitas nos primórdios da monarquia de Israel em que Saul exterminou crianças, mulheres e idosos, executando a sentença que realmente lhe fora  determinada, entretanto se silenciando e poupando  vergonhosamente o rei destes. Não vejo no caso de Saul outra justificativa para a sua atitude que não tenha sido a de considerar aquele povo “gente insignificante, desclassificada e descartável”, ao passo que, Agague  - o seu rei, para ele Saul, fosse pessoa nobre, de seu mesmo grupo social. Sendo assim, o rei de Israel além de desobedecer a Deus, fora parcial; o que a meu ver, é o mesmo que injustiça.  E não são realmente parecidas as atitudes de alguns poderosos que se silenciaram em prejuízo de tantas pessoas  usadas e descartadas que não tiveram quem por elas levantasse a sua voz? Pasmem! Segundo a matéria publicada foram aproximadamente 100 000 vítimas de pedofilia molestadas por estes bandidos travestidos de líderes religiosos!
 
 É importante ressaltar aqui que, Samuel como autoridade profética, além de não se silenciar a respeito deste reprovável ato do primeiro rei de Israel, sem hesitação o confrontou. Penso assim que com relação a Saul, o profeta entendia que obediência pela metade seria o mesmo que desobediência integral, mas com relação a si próprio, jamais poderia silênciar-se diante de injustiça, pois isto também é pecado. Concluo ainda, com relação ao desfecho melancólico deste episódio, que as atitudes ou ausência delas, inevitavelmente levarão a grandes prejuízos e que os maiores prejuízos não são somente materiais como perdas de ovelhas, bois e etc. ou de US$ 2 bilhões como no caso das indenizações pagas pelos casos de pedofilia aqui citados, mas, sobretudo, morais de quem os sofre e de credibilidade de quem os comete ou os omite.   
  
Indo a frente É interessante notar que os conflitos de bastidores da monarquia de Israel não se restringiram somente à desobediência de Saul. Seguiram-se os desvios de Davi. Confrontado  veementemente pelo profeta Natã, por ter tentado silenciar a voz de seu fiel capitão Urias, que mesmo emudecido pela sepultara, gritava através da voz da denúncia profética. O confortador da história do Rei Davi, entretanto, é que o grito da denúncia e o ímpeto do confronto fizeram com que uma história de devassidão e impiedade se tornasse numa linda história de sincero arrependimento.   

Meditando nestes fatos, entre várias lições, extraio para mim que: ainda que o confronto incomode e a voz da denúncia exponha à vulnerabilidade que insiste em se ocultar, ainda sim é preferível ser confrontado como foram Davi, Jonas, Pedro e outros personagens bíblicos  sejam quais fossem os títulos que os acompanhassem: rei, profeta, apóstolo, etc., pois é verdadeira a máxima de que “Quem avisa amigo é”.

Foi por sempre pensar assim que, nunca gostei que passassem a mão na minha cabeça; não busco privilégios, detesto injustiças e espero que os meus verdadeiros amigos de fé me confrontem se eu estiver errado; creio definitivamente que qualquer tipo de injustiça inclusive pretensamente em meu benefício que se valha do silêncio como forma de pacificação quer seja para mim, quer seja para o contexto no qual eu esteja inserido, mais cedo ou mais tarde  levará a mim e consequentemente o meu redor à ruína. Lembro-me, por exemplo, do caso do profeta Jonas quando fugia para Tarsis! Lembro-me dos prejuízos de seus companheiros de viagem!

Desejo ainda declarar que afirmei estes dias que admiro a nobreza de alguns católicos como: Tereza de Calcutá, que doou a sua vida pelas crianças pobres da Índia e Zilda Arns que trabalhando incansavelmente por crianças no Brasil e no exterior, acabou vindo a falecer em terremoto que ocorreu no Haiti em 2010. Quem não conhece histórias de freiras que cuidam de tanta gente enferma? Tantos anônimos decentes que professam esta fé, mas que hoje se sentem manchados e sofrendo de alguma forma o opróbrio dos exemplos destes vilões travestidos de cristãos.

Porque então juntos não gritarmos contra esta e outras formas de injustiças, estejam em que bastidores estiverem? Pois quem se silencia quando tem que se pronunciar fatalmente poderá ser confundido ou subentendido como um mero “amigo de fé” deste tipo de gente, um conivente ou na menor das hipóteses alguém até de boa fé, mas que acabará sofrendo os prejuízos da suspeita da cumplicidade. 

Para encerrar deixo aqui a denúncia profética de Ezequiel em forma de analogia de uma edificação, cujos edificadores tentaram ocultar a sua vulnerabilidade caiando sobre a podridão interna oculta aos olhos, mas inevitavelmente em processo de auto-arruinamento. 

Ezequiel 13:12-16
 Quando o muro desabar, o povo lhes perguntará: "Onde está a caiação que vocês fizeram? Por isso, assim diz o Soberano Senhor: Na minha ira permitirei o estouro de um vento violento, e na minha indignação chuva de pedra e um aguaceiro torrencial cairão com ímpeto destruidor.
Despedaçarei o muro que vocês caiaram e o arrasarei para que se desnudem os seus alicerces. Quando ele cair, vocês serão destruídos com ele; e vocês saberão que eu sou o Senhor.  Assim esgotarei minha ira contra o muro e contra aqueles que o caiaram. Direi a vocês: O muro se foi, e também aqueles que o caiaram, os profetas de Israel que profetizaram sobre Jerusalém e tiveram visões de paz para ela quando  não havia paz, palavra do Soberano Senhor.