segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Minha última retrospectiva

Saudades de minhas viagens de trem para o Sul de Minas
Tempos lindos de criança, 

nos quais não sabia que minha vida também seria uma viagem!
Constrangedor para mim seria, olhar do final da própria história e constatar que não teria sorrido os meus próprios sorrisos, chorado as minhas próprias lágrimas, não falado com as palavras que desejei falar e silenciado com a sutileza dos que tentaram os meu lábios cerrar.

Quão triste ser a mim mesmo desvendado que o trágico não foram riquezas que faltaram, nem ambições de grandes conquistas que não obtive, nem mesmo oportunidades de uma nova história que não escrevi, mas que meramente faltou autenticidade. 

Quão frustrante seria que ao ter pensado em cantar: "Ideologia eu quero uma pra viver", na verdade não ter sido eu quem tivesse cantado, mas subconscientemente terem sussurrado com uma hipócrita delicadeza o que queriam que eu cantasse.

Penoso seria olhar para os meus verdadeiros heróis e saber que não se desviveram ao tentarem fazer deles Zafenates Paneias e Beltessazares, sendo o que deveriam ser e não o que queriam que fossem, ou seja, jamais tendo se deixado formatarem, mas ao voltar para mim mesmo me ver tendo, dançado, cantado, falado, ventriloquicamente sendo, mas na realidade sem jamais ter sido.

Não, mil vezes não! Quero Chegar no final da própria história sim, mas sem espadas que não foram minhas, sem guerras que não me pertenceram, sem abrir mão de ser eu mesmo, buscando simplesmente ser original, ainda que respeitando a todos, mas sendo um Eu com identidade própria, com um jeitinho mesmo que pouco seja, diferente de ser!      


Abraço! Derciley

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Mutilações que agregam sentido a existência

Em mais uma das noites frias deste inverno, eu lá ouvindo a voz mais poderosa do universo, ela mesma - a voz mais doce e admirável que fala a alma humana!
“... melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.”
Mateus 18:8b (Palavra do amado Jesus)

Creio que não deixou de ser em decorrência da reunião em que tivemos ontem, para a qual fomos convidados a render graças por uma vida preciosa: a da irmã Dione que sobreviveu a um momento difícil de sua vida, embora tendo sido sequelada com a amputação de um dos seus pés.

Confesso que me preocupei um pouco com as palavras de conforto dos presentes dirigidas a querida irmã, considerando-se que o momento era ao mesmo tempo de ganho de sua vida, mas de perda de parte de um dos membros de seu corpo.

Eu não era o orador e a mensagem foi muito edificante, diga-se de passagem. Vivemos inclusive ali momentos de lágrimas, de sorrisos, comemos até juntos uma saborosa canjiquinha... Só que nos momentos em que transcorria a reunião regada a louvor e orações, me vieram à memoria algumas  lições com relação a um personagem mutilado de um filme, e também, sobretudo, sobre o evento que mudou para sempre a vida do patriarca Jacó as quais com brevidade compartilhei e que desejo expandi-las aqui:

Tenente Dan Taylor - Filme Forrest Gump

O filme é Forrest Gump e o ator é Gary Alan Sinise que interpretou o tenente mutilado Dan Taylor, salvo por seu ingênuo soldado em guerra no Vietnam. O problema crucial é que a sua mutilação o fez sentir extremamente infeliz em sua existência, pois o mesmo era de família de “heróis” de guerra e preferiria ter morrido na guerra a viver, conforme cria: inutilmente. Mas o tempo teve que passar para que o ex-combatente viesse a entender o sentido real de sua vida se tornando um companheiro e ainda que sem as pernas, sócio bem sucedido do seu ex-soldado, próspero e notável amigo. Sem dúvida é uma linda história da qual, transcrevo aqui uma frase singela:
Ex-combatente Dan Taylor mutilado

"A vida é como uma caixa de bombons, você nunca sabe o que vai encontrar”. Forrest Gump

Bom, voltemos à reunião de ontem em que agradecíamos a Deus pela vida da irmã Dione. Citei na oportunidade o exemplo do encontro no Vale do Jaboque de um Jacó que apesar de a partir dali se tornar claudicante fisicamente, tornou-se porém, mais integro do que nunca em sua essência para uma vida que se revelara após àquele marcante encontro com o seu amado Deus. .

Gênesis 32:24-31
“... Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva. E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa.”

Enfim, foi mais uma destas histórias da vida em uma noite fria, na qual a voz de Deus se impõe aos ouvidos dos que anseiam em ouvir.

Ah! E não posso deixar de dizer que a reunião encerrou com o depoimento da irmã, alvo de nossas ações de graças à Deus, eis as suas palavras:

Estou feliz! A cicatrização da amputação tem sido considerada um milagre, pois tomo insulina (ela é diabética). Agora vou colocar uma botinha (uma prótese) e vou trabalhar para Jesus, como trabalhava antigamente.

Que Deus faça da senhora, irmã Dione “mais uma Israel”, mais uma lutadora que prevalece depois de ser marcada pelas mutilações da matéria, que agregam sentido a existência em nossa passagem nesta Terra.

Paz seja conosco!


Derciley