segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O que temos a ver com a tragédia ambiental em Resende - RJ?

Resende - natureza e industrialização de mãos dadas
No dia 17 de novembro de 2008, ocorreu um gravíssimo acidente em Resende-RJ, quando pelo menos 8 mil litros de um pesticida vazaram para o Rio Paraíba do Sul, durante o descarregamento do produto no pátio de uma empresa, outrora chamada Cyanamid Química do Brasil (empresa americana) que a princípio passou por um processo de terceirização, sendo assumida posteriormente por ex-funcionários que com muitos esforços, acabaram comprando aquele complexo industrial.

Desejo traçar alguns paralelos relacionados a este fato gravíssimo e a alguns acontecimentos relativos à minha vida: 

O primeiro fato é que sou nascido na cidade de Resende, o segundo é que trabalhei nesta empresa desde os meus vinte anos de idade, por um período de aproximadamente dezesseis anos, o terceiro é que tenho uma formação wesleyana e por muitas vezes tive a oportunidade de pregar o evangelho a colegas de trabalho sendo alguns hoje, graças a Deus, evangélicos. Trabalhei ali em comissões internas de prevenção de acidentes – CIPA, e na área de logística, responsável pelo armazenamento, planejamento e descarga de produtos semelhantes ao que me referi aqui.

Churrasco de confraternização de funcionários - 1983
Pude naquela época, assistir a algumas demandas entre setores produtivos, financeiros e entre responsáveis por segurança (período de 1980 a 1996) e ali ocorreram acirrados debates sobre a necessidade, por exemplo: de se implantar uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE’s), e também em outras questões relacionadas ao investimento em pessoal, em pesquisas e outras. Convivi ali, com muita gente séria, trabalhadora, mas também, com gente gananciosa, insensível às dificuldades do próximo. Enfim foi ali que conheci, no alvorecer da minha vida profissional, as duas faces do sistema capitalista. 

Infelizmente, o acidente foi em minha cidade, na mesma empresa em que eu trabalhei, no rio que por cortar a região mais industrializada do Brasil é considerado o mais importante rio para o progresso da nação. E são das águas deste mesmo rio que os meus conterrâneos tomam banho e também bebem água. É este mesmo rio que corta todo o Estado do Rio de Janeiro, desaguando na cidade de Campos dos Goytacazes - RJ; infelizmente a tragédia foi sem precedentes, para a flora, para fauna, para a agricultura, para os pescadores, enfim, o dano foi enorme.
Foto de Otacílio Rodrigues

Não sei se na época  superestimei o problema, mas o que de certo modo mais me inquietou, é que não fiquei sabendo de nenhum seguimento cristão, que tenha se posicionado oficialmente, nem sobre a mortandade de peixes, nem sobre os 1.200 pescadores que ficaram sem a sua forma de sustento, nem sobre as populações ribeirinhas daquele belo e importante rio, ou mesmo sobre anteriores desmatamentos de suas margens. Nada, nada.

 Cheguei até a pensar que o problema era que eu tivesse mal informado, mas mesmo assim decidi levar esta reflexão a todos nós cristãos de um modo geral, por crer que o problema não seja exclusivamente dos setores público ou privado.

Mortandade de peixes no Rio Paraíba do Sul
Quanto aos meus conterrâneos evangélicos resendenses, quanto aos cristãos fluminenses, quanto aos cristãos brasileiros de um modo geral; será que realmente estamos preocupados com os nossos Rios Paraíba, Tietê, Guandu, São Francisco, Amazonas, e outros... Ou será que alguns, estão entorpecidos pela acomodação da esperança em um futuro, do usufruto de um rio de águas cristalinas jamais poluíveis, que para alguns pseudocristãos, jamais acontecerá?

Então o anjo me mostrou o rio da água da vida que, claro como cristal, fluía do trono de Deus e do Cordeiro”. 
Apocalipse 22:1

Foto do site www.pescaki.com.br
Confesso que fico impressionado como alguns dizem crer na salvação do homem degradado, afirmando que a salvação é direito de todos – dizem, inclusive, professar uma teologia sinergista [1], entretanto pouco importa a alguns as tragédias, isto é, se os seus filhos, os seus irmãos, não fizerem parte da comunidade de pescadores infelizes, de ribeirinhos que não tem outro lugar para morar e que acabam fazendo os seus barracos sem esgoto a beira dos nossos amados rios, entretanto, já poluídos pela depredadora e corrompida máquina global capitalista!

Posso aqui afirmar que, com certeza o que vivemos hoje, é bem parecido com o que aconteceu na Inglaterra do século XVIII, fatos estes que acabaram contribuindo para que a bandeira da teologia social de Wesley viesse a ser desfraldada:

                         “Assim, pois, era o povo, degradado até ao embrutecimento, no caso das classes populares, e corrompido até ao cinismo, no meio das classes intelectuais, que o metodismo se propôs a reformar. Parece que a nação tinha chegado a tal extremo de depravação que só lhes sobrava à alternativa entre perecer ou nascer para uma vida nova”.[2]

Infelizmente, assim como assistimos a tragédia no Rio Paraíba em 2008, temos constatado o aumento de forma descomunal de outras tragédias, e tanto pobres como ricos contribuindo para a degradação tanto de rios, como de lagos e de fontes de águas em geral; e assim inquietos fazemos a grande indagação: o que fazer?

 Particularmente, eu penso como John Wesley, que a nossa preocupação deve ser primeiramente de não ignorar a parte mais sofrida nesta caminhada destrutiva da modernidade - os pobres. 

Quanto aos ricos, devem ser instados a uma atitude responsiva com relação à graça de Deus, que é direcionada a todos os homens indistintamente e não somente a eles. Ainda quanto a estes – os ricos devem ser conscientizados a contribuírem para a restauração da sociedade como fator primordial para a restauração da dignidade humana, sob pena de sofrer as penas inerentes a esta omissão.    

Especificamente, com relação a luta em defesa do meio ambiente, o envolvimento da igreja deve ser em prestar a sua contribuição educativa no sentido de conscientização para preservação e recuperação da natureza, e em decorrência disto envolver sem qualquer preconceito todos os cidadãos: 


pobres, ricos, políticos, religiosos, enfim, todos os homens, a caminharem rumo a um grande diálogo que leve todos, a exercerem plenamente a sua cidadania.

A proposta então, é persuadir a todos quantos cremos que Deus ama, a fazerem uma grande aliança tendo como alvo, mudanças profundas que proporcionem oportunidades melhores para que todos possam crescer na vida.

Enfim, a meu ver, isto é soteriologia social: é não focar a salvação somente no individuo, mas também no espaço público de um modo geral, onde por um lado o homem pode desenvolver a sua salvação e por outro lado, pode acabar se perdendo em decorrência de uma atitude gananciosa e exploradora do seu semelhante.

Assim, concluindo, expando a pergunta do início: O que temos a ver com as tragédias em Resende, em Petrópolis, em Angra dos Reis, em Niterói, na Amazônia, no Japão, enfim em todo o mundo? 
Trabalho de Soteriologia social que fiz quando estudei na Universidade Metodista de São Paulo
Abraços

Pr. Derciley

[1] E esta convicção não deveria nos levar a uma responsabilidade maior? Se todos têm o direito de ser salvo, não devemos como sinergistas, proporcionar-lhes  o acesso a salvação?
[2] Leliévre Mateo - Smith & Lamar, João Wesley sua vida e obra, tradução Gordon Chown: - Editora Vida, pág, 13 – 1997.

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