Resende - natureza e industrialização de mãos dadas |
No dia 17 de novembro de 2008, ocorreu um
gravíssimo acidente em Resende-RJ, quando pelo menos 8 mil litros de um
pesticida vazaram para o Rio Paraíba do Sul, durante o descarregamento do
produto no pátio de uma empresa, outrora chamada Cyanamid Química do Brasil
(empresa americana) que a princípio passou por um processo de terceirização,
sendo assumida posteriormente por ex-funcionários que com muitos esforços, acabaram comprando
aquele complexo industrial.
Desejo traçar alguns paralelos
relacionados a este fato gravíssimo e a alguns acontecimentos relativos à minha
vida:
O primeiro fato é que sou nascido na cidade de Resende, o segundo é que trabalhei nesta empresa desde os meus vinte anos de idade, por um período de aproximadamente dezesseis anos, o terceiro é que tenho uma formação wesleyana e por muitas vezes tive a oportunidade de pregar o evangelho a colegas de trabalho sendo alguns hoje, graças a Deus, evangélicos. Trabalhei ali em comissões internas de prevenção de acidentes – CIPA, e na área de logística, responsável pelo armazenamento, planejamento e descarga de produtos semelhantes ao que me referi aqui.
O primeiro fato é que sou nascido na cidade de Resende, o segundo é que trabalhei nesta empresa desde os meus vinte anos de idade, por um período de aproximadamente dezesseis anos, o terceiro é que tenho uma formação wesleyana e por muitas vezes tive a oportunidade de pregar o evangelho a colegas de trabalho sendo alguns hoje, graças a Deus, evangélicos. Trabalhei ali em comissões internas de prevenção de acidentes – CIPA, e na área de logística, responsável pelo armazenamento, planejamento e descarga de produtos semelhantes ao que me referi aqui.
Churrasco de confraternização de funcionários - 1983 |
Pude naquela época, assistir a
algumas demandas entre setores produtivos, financeiros e entre responsáveis por
segurança (período de 1980 a
1996) e ali ocorreram acirrados debates sobre a necessidade, por
exemplo: de se implantar uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE’s), e
também em outras questões relacionadas ao investimento em pessoal, em
pesquisas e outras. Convivi ali, com muita gente séria, trabalhadora, mas
também, com gente gananciosa, insensível às dificuldades do próximo. Enfim foi
ali que conheci, no alvorecer da minha vida profissional, as duas faces do
sistema capitalista.
Infelizmente, o acidente foi em minha
cidade, na mesma empresa em que eu trabalhei, no rio que por cortar a região
mais industrializada do Brasil é considerado o mais importante rio para o
progresso da nação. E são das águas deste mesmo rio que os meus conterrâneos
tomam banho e também bebem água. É este mesmo rio que corta todo o Estado do
Rio de Janeiro, desaguando na cidade de Campos dos Goytacazes - RJ;
infelizmente a tragédia foi sem precedentes, para a flora, para fauna, para a
agricultura, para os pescadores, enfim, o dano foi enorme.
Foto de Otacílio Rodrigues |
Não sei se na época superestimei o problema, mas o que de certo
modo mais me inquietou, é que não fiquei sabendo de nenhum seguimento cristão,
que tenha se posicionado oficialmente, nem sobre a mortandade de peixes, nem
sobre os 1.200 pescadores que ficaram sem a sua forma de sustento, nem sobre as
populações ribeirinhas daquele belo e importante rio, ou mesmo sobre anteriores
desmatamentos de suas margens. Nada, nada.
Cheguei
até a pensar que o problema era que eu tivesse mal informado, mas mesmo assim
decidi levar esta reflexão a todos nós cristãos de um modo geral, por crer que
o problema não seja exclusivamente dos setores público ou privado.
Mortandade de peixes no Rio Paraíba do Sul |
Quanto aos meus conterrâneos evangélicos
resendenses, quanto aos cristãos fluminenses, quanto aos cristãos brasileiros de
um modo geral; será que realmente estamos preocupados com os nossos Rios
Paraíba, Tietê, Guandu, São Francisco, Amazonas, e outros... Ou será que alguns,
estão entorpecidos pela acomodação da esperança em um futuro, do usufruto de um
rio de águas cristalinas jamais poluíveis, que para alguns pseudocristãos,
jamais acontecerá?
“Então o anjo me mostrou o rio da água
da vida que, claro como cristal, fluía do trono de Deus e do Cordeiro”.
Apocalipse 22:1
Apocalipse 22:1
Foto do site www.pescaki.com.br |
Confesso que fico impressionado como alguns dizem crer na
salvação do homem degradado, afirmando que a salvação é direito de todos – dizem,
inclusive, professar uma teologia sinergista [1], entretanto pouco importa a alguns as
tragédias, isto é, se os seus filhos, os seus irmãos, não fizerem parte da
comunidade de pescadores infelizes, de ribeirinhos que não tem outro lugar para
morar e que acabam fazendo os seus barracos sem esgoto a beira dos nossos
amados rios, entretanto, já poluídos pela depredadora e corrompida máquina
global capitalista!
Posso aqui afirmar que, com certeza o que vivemos hoje, é bem
parecido com o que aconteceu na Inglaterra do século XVIII, fatos estes que
acabaram contribuindo para que a bandeira da teologia social de Wesley viesse a
ser desfraldada:
“Assim, pois, era o povo, degradado até ao embrutecimento, no caso das classes
populares, e corrompido até ao cinismo, no meio das classes intelectuais, que o
metodismo se propôs a reformar. Parece que a nação tinha chegado a tal extremo
de depravação que só lhes sobrava à alternativa entre perecer ou nascer para
uma vida nova”.[2]
Infelizmente, assim como assistimos a
tragédia no Rio Paraíba em 2008, temos constatado o aumento de forma descomunal
de outras tragédias, e tanto pobres como ricos contribuindo para a degradação
tanto de rios, como de lagos e de fontes de águas em geral; e assim inquietos fazemos
a grande indagação: o que fazer?
Particularmente, eu penso como John Wesley, que a
nossa preocupação deve ser primeiramente de não ignorar a parte mais sofrida nesta caminhada destrutiva da modernidade - os pobres.
Quanto aos ricos, devem ser instados a uma atitude responsiva com relação à graça de Deus, que é direcionada a todos os homens indistintamente e não somente a eles. Ainda quanto a estes – os ricos devem ser conscientizados a contribuírem para a restauração da sociedade como fator primordial para a restauração da dignidade humana, sob pena de sofrer as penas inerentes a esta omissão.
Quanto aos ricos, devem ser instados a uma atitude responsiva com relação à graça de Deus, que é direcionada a todos os homens indistintamente e não somente a eles. Ainda quanto a estes – os ricos devem ser conscientizados a contribuírem para a restauração da sociedade como fator primordial para a restauração da dignidade humana, sob pena de sofrer as penas inerentes a esta omissão.
Especificamente, com relação a luta em defesa do meio
ambiente, o envolvimento da igreja deve ser em prestar a sua contribuição
educativa no sentido de conscientização para preservação e recuperação da
natureza, e em decorrência disto envolver sem qualquer preconceito todos os
cidadãos:
pobres, ricos, políticos, religiosos, enfim, todos os homens, a
caminharem rumo a um grande diálogo que leve todos, a exercerem plenamente a
sua cidadania.
A proposta então, é persuadir a todos quantos cremos
que Deus ama, a fazerem uma grande aliança tendo como alvo, mudanças profundas
que proporcionem oportunidades melhores para que todos possam crescer na vida.
Enfim,
a meu ver, isto é soteriologia social: é não focar a salvação somente no
individuo, mas também no espaço público de um modo geral, onde por um lado o
homem pode desenvolver a sua salvação e por outro lado, pode acabar se perdendo
em decorrência de uma atitude gananciosa e exploradora do seu semelhante.
Assim, concluindo, expando a pergunta do início: O que temos a ver com as tragédias em Resende, em Petrópolis, em Angra dos Reis, em Niterói, na Amazônia, no Japão, enfim em todo o mundo?
Assim, concluindo, expando a pergunta do início: O que temos a ver com as tragédias em Resende, em Petrópolis, em Angra dos Reis, em Niterói, na Amazônia, no Japão, enfim em todo o mundo?
Trabalho de Soteriologia social que fiz quando estudei na Universidade Metodista de São Paulo
Abraços
Pr. Derciley
[1] E esta convicção não deveria nos levar a uma
responsabilidade maior? Se todos têm o direito de ser salvo, não devemos
como sinergistas, proporcionar-lhes o acesso a salvação?
[2] Leliévre Mateo - Smith & Lamar, João Wesley sua vida e
obra, tradução Gordon Chown: - Editora Vida, pág, 13 – 1997.
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