As histórias das civilizações
antigas sempre foram caracterizadas pelos grandes heróis que as construíram,
pelas grandes batalhas que travaram para fazer dos seus povos nações grandiosas
e do apogeu que as “perpetuaram”.
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Pirâmides do Egito , uma das sete maravilhas
do mundo em todos os tempos. Umas das mais monumentais construções de todas as civilizações |
Penso, entretanto, que as ruínas
dos povos algumas vezes ocorridas de formas impressionantes, nos transmitem
lições ainda mais importantes que as suas glórias, nos convidando a não desprezá-las,
sob pena de experimentarmos os mesmos fracassos que estes grandiosos povos no
passado enfrentaram.
Posso começar exemplificando
com o próprio Israel do Antigo Testamento que após conquistas memoráveis e
inspiradoras para todas as nações, teve que encarar o seu inevitável declínio.
E por qual motivo aconteceu o
colapso nacional de Israel naqueles dias? Permita-me que lhe apresente o pensamento de Jeremias,
homem que além de ter sido tomado pela inspiração Divina, foi testemunha ocular dos fatos:
Jeremias 2:12-13
Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente
desolados, diz o Senhor. Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram
o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm
águas.
E quanto a mais outras civilizações citadas na Bíblia Sagrada como o Egito dos Faraós e a Babilônia do grandioso
Nabucodonosor, o que têm elas a nos ensinar? Não foram todas marcadas por
ascensões grandiosas e posteriores deteriorações quase que inexplicáveis?
Assim sendo, não podemos
desprezar o fato de que todas as grandes civilizações, sejam nas páginas da
Bíblia, sejam nos anais da história que viveram seus momentos de ruínas, tiveram
alguns fatores em comum entre os quais, desejo destacar pelo menos dois aqui:
1º.) A perda gradativa
(afrouxamento) dos seus valores morais e,
2º.) A perda de suas convicções religiosas independente de serem judaico-cristãs, ou outras quaisquer.
E quanto aos tempos da modernidade,
não foi exatamente este fenômeno que se repetiu na civilização ocidental, em
especial na Europa, que outrora ostentava o domínio dos povos, os subjugando
como suas colônias, tanto nas Américas, quanto na África, Ásia e Oceania expandindo-se
mais e mais; fazendo o mundo se dobrar aos seus pés. E não tem sido este mesmo
glorioso Continente, que tem sucumbido espantosamente aos nossos olhos?
No entanto, diante dos fatos
ocorridos orquestrados por extremistas jihadistas no início deste ano de 2015 que chocaram o mundo, desejo expandir a minha reflexão tratando exclusivamente
do país europeu cuja capital Paris, é a mais globalizada e lugar de encontro
de todas as nações, povos e culturas do mundo contemporâneo.
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Manifesto dos governantes mundiais em homenagem aos mortos em Paris pelos terroristas jihadistas |
Diga-se de passagem, quero deixar
registrado aqui que concordo plenamente com aqueles que, embora estarrecidos, tem
feito questão de expressar a preocupação em separar estes terroristas que
mataram os doze integrantes ou próximos da Revista Charlie Hebdo,
dos
islâmicos de um modo geral que são um povo pacífico, embora zeloso de propagar a sua
convicção religiosa e que no caso da França, fazem o uso do seu direito
lícito de usar o lema “Liberté, Egalité, Fraternité” (Liberdade, igualdade, fraternidade), sob o qual se abrigam todos os
povos convidados a viverem esta mensagem evidenciada a partir da luta contra as
forças opressoras que em tempos idos governaram aquela nação.
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Noite de São Bartolomeu - 24 de agosto de 1572 Uma das mortandades mais sangrentas da França, dezena de milhares de protestantes foram mortos traiçoeiramente sem direito a defesa |
Entretanto, não posso deixar de
afirmar, que o grande paradoxo desta situação é que a começar pelos tempos de
opressão de uma França cujo governo exterminou setenta mil protestantes (cristãos) e em
tempos posteriores, de ícones do pensamento francês que contribuíram para que
nossos contemporâneos viessem mergulhar não somente nas águas da laicização, mas,
sobretudo “na lama de uma falsa liberdade de um Deus cristão”, que bem lhes poderia ser fator de coesão em meio às crises da atualidade, só que,
entretanto, fizeram “Deste” uma espécie de inimigo fatal.
Destaco aqui alguns pensamentos
sobre “deus”, sobre os homens e sobre o mundo de Jean Paul Sartre, o maior filósofo
francês do século XX:
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Jean Paul Sartre - filósofo existencialista francês do século XX |
"Se
existisse Deus, tudo seria exatamente como é."
"Quando,
alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana, os deuses deixam de poder
seja o que for contra esse homem."
"Eu
tinha encontrado minha religião: nada me parecia mais importante que um livro,
numa biblioteca eu via um templo."
"Nasci
para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo."
"O inferno são os outros."
Ao Referir-me, acima sobre
ícones do pensamento francês, estava pensando em homens que por meio de refutações
ora justas da cristandade, ora injustas do cristianismo, formaram
a opinião de um povo sobre a preeminência do humanismo em relação aos ideais
cristãos, no século XVIII, como é o caso menos de Jean Jacques Rousseau e mais
de Voltaire, mas, sobretudo, do maior existencialista do século XX, o já citado
Sartre, que de algum modo acabaram levando, outros a levarem a França a uma
encruzilhada sem precedentes. Desta
forma, triste é ser uma nação laica, sem ter um Deus a quem pedir socorro!
Como salta aos olhos em nossos tempos a palavra do Salmista:
Salmos 144:15
NVI
Como é feliz o
povo assim abençoado! Como é feliz o povo cujo Deus é o Senhor!
Por outro lado, ao contrario do
pensamento do salmista, os franceses criaram um Estado Laico e até aí tudo bem, não cheguemos a sonhar com um "Estado Cristão", só que infelizmente como se não bastasse, não quiseram nem Deus por perto.
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Islâmicos fazendo suas preces em Meca |
Mas, voltando ao problema presente... O que dizer por exemplo a 2,5 milhões de religiosos islâmicos, que exigem respeito, esperam ter o direito de usar suas vestes religiosas, e que não abrem mão de convictamente se dobrarem em Paris diante
de seu Deus, voltados para Meca?
E agora, o que dizer a milhões de pessoas
que pouco se importam com laicização, mas que clamam por “Liberté, Egalité, Fraternité”?
Confesso que se pudesse
gostaria de obter as respostas dos próprios que fizeram calar a voz de setenta mil
protestantes na noite de São Bartolomeu, só porque estes desejavam expressar suas
convicções, sua fé, ou até mesmo um sonho latente de “Liberdade, Igualdade e
fraternidade” gerado no coração desta tão amada nação!
E quanto aos pensadores da
modernidade... Eu lhes diria: e agora Rousseau, Voltaire e Sartre, o que fazer?
Só posso dizer
que, em meio a tanta falta de respostas, diante de uma crescente expansão do
islamismo na França e no mundo, diante da expansão missionária das
igrejas evangélicas, diante da preocupação do Papa Francisco e do catolicismo
de que o mesmo retome seu espaço perdido, diante de um mundo cujas civilizações
conquistam, chegam ao apogeu e se definham, que consigamos encontrar ao menos
algumas respostas que tragam mais paz, conforto, menos guerras santas, cruzadas, noites de São Bartolomeu, tristezas e sangues de indefesos!
Para encerrar, quanto a mim, embora respeitando
a todos os povos, religiões e convicções, o que espero é ser respeitado na
minha não menos inabalável convicção de que chegará um dia em que todos nós amigos:
evangélicos, católicos, islâmicos, budistas, céticos, vivendo ou não paradoxos,
defendendo ou não o laicismo e mesmo com os “não amigáveis”: contenciosos,
extremistas, fundamentalistas, teremos que nos dobrar inevitavelmente diante de Jesus afim de prestarmos contas das nossas liberdades de escolhas.
Filipenses 2:10-11
Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus,
e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse
que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
Se você não crê como eu, tudo bem! Mas jamais deixemos de nos respeitarmos mutuamente.